Eu poderia começar esse texto dizendo que minha vida mudou completamente depois de ser diagnosticada com um câncer raro metastático em estágio IV. Mas acho que prefiro começar lembrando do susto, do medo e do desespero de tudo que viria pela frente e principalmente do que eu não viveria.
Sessões de quimio de mais de dez horas, radioterapias, dezesseis cirurgias e tira rim e tira pedaço disso, daquilo outro... (eu sei tudo que me foi tirado e lamento cada pedacinho, só acho que não iria enriquecer a narrativa). A gente fica sem cabelo, sem sobrancelha e o pior, sem cílios. Cara, como cílios fazem falta. Ele são meio que nosso para-brisa, sei lá. Inferno ficar sem. Também passei um tempo na cadeira de rodas, as vezes ainda preciso dela e posso garantir, não é mole não. Encontrar um apartamento em que minha cadeira passasse por todas as portas foi um suplício. Mas encontrei!
Hoje, estou na trigésima sessão de imunoterapia e pretendo seguir em frente. Já tive quatro recidivas, mas tiramos tudo e assim vamos zerando o placar da doença.
E aí chegamos ao ser uma Pessoa com Deficiência, das sequelas que ficaram e ficarão pode acreditar, não me incomodam em absoluto, até quando me incomodam muito. Porque eu sei que a dor das neuropatias, os problemas auditivos causados pela quimio, a perda da tiroide, a colostomia que salvou meu intestino, tudo que veio e que virá será uma gotinha do oceano que venho atravessando. E dá-lhe onda na cara! A pior é o preconceito. Há quem ignore no pior sentido da ignorância e pense que sou menos capaz de assumir trabalhos porque estou em tratamento. Mas não sou não e continuo criando e trabalhando.
E foi por isso tudo e em nome de tudo que vivi que ostento hoje com um orgulho o título de PcD. Pois ele é a maior prova de que estou viva.
Obrigada por me ler.
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