Meu pai sempre foi um apaixonado por aparelhos de TV. Lembro da nossa primeira televisão colorida, tão nova que parecia que os caras nem tinham terminado de pintar as “color bars”. Minha mãe, por outro lado, não era tão fã e restringia meu tempo na frente da tela. O pouco que eu conseguia negociar incluía “Vila Sésamo” e, claro, “Zorro”.
Ah, Zorro… ele foi meu primeiro amor. Eu achava o máximo quando ele pulava da sacada, que hoje me parece tão “perigosa” quanto a varanda do “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, mas na época… O que mais me intrigava, aos seis anos, era como ninguém o reconhecia com aquela máscara ridícula cobrindo só os olhos. Se eu usasse uma máscara dessas, minha mãe me mandaria para o banho sem pestanejar. Talvez o pessoal da Califórnia espanhola precisasse de óculos.
Alguns anos depois, veio “Ilha da Fantasia”, minha primeira série predileta. Eu passava
horas imaginando qual pedido faria, mas, sinceramente, todos os meus desejos pareciam meio michos – tipo um estojo Silvapen de 12 cores ou uma bicicleta com cestinha. Nada que fosse digno de um episódio da “Ilha da Fantasia”. Bye bye, Tatu.
Então, teve o dia do “Incrível Hulk”. Meus pais saíram e minha irmã, que deveria cuidar de mim, foi para uma festa. Acordei no meio da noite sozinha. Corri para a sala, me enrolei na coberta e liguei a TV. E adivinha? Estava passando o “Incrível Hulk”! Por quê, Jesus? Eu tinha tanto medo, que não conseguia levantar do sofá. Vai que ele me atacava pelas costas? O Hulk, não o sofá. E se ele estivesse na área de serviço roubando uma camisa do meu pai? O desespero só passou quando liguei para o CVV e desabafei meu pavor. Eles foram pacientes e ficaram na linha até eu dormir.
Outro bigode entrou na minha vida um tempo depois: o do Magnum. Atrapalhado, camisa havaiana, chinelo… o cara tinha charme e uma Ferrari emprestada que parecia feita para correr contra o pôr do sol do Havaí. Eu ficava imaginando se algum dia poderia pilotar uma Ferrari, mesmo que fosse emprestada. Claro, o mais perto que cheguei disso foi o meu primeiro carro, aos 29 anos em 1997: um Fiat 147-1974.
De Magnum para “Miami Vice”! Vice! Vice! Que histeria! A série veio para me provar que um homem pode ficar bonito usando ternos de linho em tons pastéis e óculos escuros, mesmo que de noite. Crockett e Tubbs eram os reis das pistas, e eu, que até então só conhecia as matinês do Banana Power, já roteirizava.
Visualizo a cena: Marcela sai de um carro esportivo com um vestido brilhante, cabelo volumoso, armado com muito laquê, um festival de sombras azuis e batom rosa-choque. E para completar, um infame par de sapatos de salto branco. Sim, eu estava pronta para dominar a noite em grande estilo, ao lado de Don, o Johnson! Nosso destino? Uma boate exclusiva onde as luzes piscam freneticamente e o perigo está sempre à espreita. Eu me vejo dançando na pista, cercada por uma meia dúzia de traficantes e bandidos, todos com aquele ar de quem estão planejando a próxima jogada imunda. É o submundo glamouroso de Miami Vice, onde tudo pode explodir em um caos cinematográfico. E eu, claro, estaria lá no meio, ao som de uma trilha sonora que até hoje lidera minha playlist de fetiches musicais.
Só sei que, mesmo com um cara usando uma roupa de passarinho gigante, um herói mascarado – que até no recreio do jardim 1 seria desmascarado pelas crianças, um bigodudo nadando no mar do Havaí, ou as pistas de dança de Miami Vice sempre lotadas de gente com o cabelo todo lambuzado de gel, eu acreditava em cada momento. A televisão fez isso comigo: transformou até os episódios mais absurdos em memórias queridas. Te amo, TV!
Que delícia ver esse seu blog!!! Amo tudo o que vc escreve! Que delícia!! Vou ler tudinho, estou muito feliz por isso!!! 😉
Também amava o Magnum e o starsky e hutch